Há exatamente dez anos, um grupo de quatro petianos embarcava no Aeroporto Internacional dos Guararapes num vôo de dez horas da finada Transbrasil com destino a Londres. O objetivo da viagem era o de participar do 16º Congresso Mundial de Ciência do Solo, que aconteceria em Montpellier (França), em meados de agosto. Se o congresso seria na França, o que faríamos na Inglaterra? Passear, óbvio... Não só na Inglaterra, mas também na Suíça, Itália e Espanha, com direito a uma pisada na Alemanha causada por um erro de rota. O custo fixo das passagens aéreas teria de ser diluído no maior período de tempo possível. Ou você gastaria cerca de mil dólares, só de passagem, para ficar apenas uma semaninha na Europa, podendo ficar um mês? Seria um atentado aos axiomas da ciência ou arte da pirangagem.
Na verdade, esse projeto teve início cerca de dois anos antes, quando Nelson Suassuna retornou do Congresso Latino-Americano de Ciência do Solo, realizado em Águas de Lindóia-SP. Esse foi talvez o primeiro evento internacional a constar em nosso robusto relatório de atividades (fora os seminários promovidos pela Profª Rosa Guedes, com o Prof. Malcom Sumner, da Universidade da Geórgia, onde, em 1999, o bolsista Nélson Sá realizaria estágio). Naquela época, Nelson era capataz de Sydney Alves do Nascimento – engenheiro florestal e estudante do Mestrado de Solos. Eram tantos trabalhos na área, que fica até difícil acreditar que hoje nosso colega trabalhe com os odiosos funguinhos da fitopatologia (como eram “carinhosamente” tratados por Valdomiro). Pois bem, voltando da viagem, em sua primeira reunião no PET, na hora dos informes de eventos, chega o Neso com um monte de folders nos mais diversos idiomas: Congresso Brasileiro no Rio, Congresso Latino-Americano em Caracas, e o tal do World Congress, em Montpellier. Onde fica Montpellier? Na França... Sonoras gargalhadas tomaram conta da sala. “Jura que nós vamos...”, dizíamos.
Nos dois anos seguintes, o folder ficou lá no mural da sala, como objeto decorativo. Nos dois anos seguintes, muita coisa aconteceu...
No início de 1997, numa feliz convergência de interesses, reunimo-nos eu, Nelson, Eryvan e Marcelo Saiki para sermos peões de Sydney. Não sei bem as motivações dos demais, porém eu me juntei ao grupo devido à política do PET de incentivar a diversificação de atividades, pois já estagiava havia dois anos no laboratório de Química Agrícola, com o nosso sempre receptivo Prof. Egídio Bezerra Neto. “Bora ajudar o Sydney?”. Não tinha nada programado para aquelas férias de início de ano... aceitei o convite. Sydney era um cara legal. Tinha um jeitão de matuto ignorante, mas dava muita força para a gente. É claro que também ganhava muito em troca, nessa relação simbiótica que sempre existirá entre pós-graduandos e graduandos. Estudava nutrição da acerola, dinâmica do fósforo em solos, e outras viagens. Na primeira conversa conosco, entregou uma pasta contendo uma extensa revisão bibliográfica manuscrita sobre os assuntos de suas investigações, e pediu que a lêssemos e digitássemos em computador. Nem uma coisa, nem outra. Acho que o coitado espera até hoje, e pior: nem sei se lhe devolvemos o material. Fontes não-identificadas informam que o Nelson teria dado o ganho. Será verdade?
Um mês enfurnados nos laboratórios de Fertilidade e de Química dos Solos. Enquanto colocávamos a mão na massa, tentávamos entender a diferença entre fósforo disponível e solúvel, e elucubrávamos a respeito das vidas privadas de Mehlich e Gonçalves et al. (dois galas-secas, com certeza). O trabalho em si até que não foi tão pesado: preparar soluções e porções de solo, incubar, molhar, esperar... no fim, o absorção atômica e o Statistica lapidaram o resultado de todo o nosso esforço. Mesmo assim, construíamos nossos ideais de futuro: um laboratório, um batalhão de estagiários, ar condicionado e uma cadeira com rodinhas para alcançar os tubos de ensaio sem ter de nos levantar. Parece-me que aqueles que prosseguiram na carreira de laboratório já concretizaram tal meta.
Cumprimos nossa parte no trato. Agora era a vez de Sydney e do Prof. Fernando Freire (seu orientador) descobrirem correlações naquele emaranhado de resultados obtidos, e não se esquecerem de incluir nossos nomes na lista de autores. Eles até que trabalharam direitinho: produziram três resumos, num verdadeiro milagre da multiplicação. Vez por outra tivemos de repetir alguma análise, algo nada complicado para nossa equipe. Sem falsa modéstia: éramos foda. Fazíamos planos de trabalhar juntos no futuro (algo que os caprichos da vida trataram de impossibilitar). Acreditávamos que, unindo nossas habilidades, dominaríamos o mundo. Honestamente, ainda acredito nisso. Em nove anos de exercício profissional, nunca mais convivi com um grupo tão motivado e talentoso quanto aquele.
Valdomiro se dedicava a outro projeto, mas sempre estava piruando nossas atividades, e vice-versa. Lembro-me de um domingo em que ele foi sozinho ao laboratório fazer uma digestão sulfúrica, procedimento de alta periculosidade, que utilizava uns tubos de ensaio grandes e de grosso calibre, e muito ácido sulfúrico, como o nome já sugere. Alertaram-lhe: “cuidado para não quebrar os tubos!” Mas não adiantou... foi como avisar a menino pequeno. De repente nosso amigo saiu tossindo do laboratório, que estava totalmente tomado por uma névoa esbranquiçada, antecipando o fog britânico, e resmungava com sua peculiar delicadeza: “tubo fraco da porra, só dei uma encostadinha na bancada e o bicho quebrou!”
Enquanto isso, corriam os prazos para a inscrição de trabalhos. Primeiro, participamos do Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, no Hotel Glória, Rio de Janeiro-RJ, em julho de 1997, com dois pôsteres. Àquela época, se não me engano, já havíamos enviado o resumo para o congresso mundial. Entre uma palestra e outra, conhecemos o presidente da Sociedade Internacional de Ciência do Solo, Alain Ruellan, doravante denominado simplesmente Ruelão. Tiramos uma foto e combinamos de nos encontrar novamente dali a um ano, na França. No fim daquele ano, recebemos a notícia de que nosso trabalho havia sido aceito. Então teríamos de enviar o artigo completo, em inglês (a não ser que preferíssemos o francês, o alemão, ou o espanhol), além do resumo preferencialmente em francês. Nessa tarefa, ajudaram-nos o Prof. Júlio Vilar (Juba) e o Simão, agrônomo, com doutorado em entomologia na Inglaterra, e que ensinava inglês no Britanic de Boa Viagem. Para escrever o resumo em francês utilizamos um software. Até hoje não sei se a tradução ficou coerente. Deve ter ficado uma beleza... se hoje os translators da vida ainda geram aberrações gramaticais, imaginem há dez anos!
A seguir, algumas fotos do Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, 1997, Hotel Glória, Rio de Janeiro (nesse congresso, aconteceu o famoso “sumiço dos queijos”, que será relatado oportunamente)
Wagner, Carlos Gilberto, Eryvan, Nelson e Herman
Marcelo, Wagner, Ruelão, Nelson, Valdomiro e Eryvan
Os cientistas: Marcelo, Nelson, Wagner e Eryvan
Ultrapassada essa etapa, era hora de partir para as questões práticas, afinal seria um pecado não participar do congresso, tendo um trabalho aceito. A oportunidade era única. “Como conseguir a ‘céda’?” Essa era a questão. Eryvan não teria grandes dificuldades, pois o danado não gastava um puto sequer da bolsa que recebia da Capes: ia tudo direto para a poupança. Valdomiro receberia uma ajuda de sua tia, mesmo assim precisaria complementar sua renda. Marcelo não sabia se iria, se não iria, se levaria a sogra... (infelizmente acabou não indo, mas morou na Europa anos depois, e por lá comeu muito camarão proveniente do Rio Grande do Norte). Nelson teria de fazer malabarismo. Eu tinha alguns dólares guardados, porém não seriam suficientes.
Nosso primeiro (e único) empreendimento foi a venda de crisântemos na semana do dia das mães. Participaram eu, Nelson e Valdomiro, além de Marcelo e Kércya, paralelamente. O produto era fornecido em consignação pela Fazenda Brejo, de Saloá, da qual o Prof. Juba era sócio. Pegamos emprestada a velha Pampa de Rosimar, que, em troca, ficou com o meu velho Uno cinza (o táxi) durante aquela semana. Retirávamos os vasos em Tejipió, e de lá saíamos vendendo. A partir da quarta-feira, iniciamos os trabalhos na própria universidade. Professores, colegas, funcionários, transeuntes... todo mundo foi insistentemente assediado. Um dos nossos maiores clientes foi o Prof. Emídio Cantídio, então Reitor: numa só tacada, comprou uns dez vasos e zerou nosso estoque do dia. Cada um também oferecia a seus parentes, vizinhos e amigos. Fizemos plantão numa loja maçônica na Dantas Barreto, numa boquinha arranjada pelo tio de Valdomiro. Aliciamos o padre da Igreja Católica de Boa Viagem para fazer nossa propaganda. Invadimos a Asbrasil, onde eu estagiava. Por fim, no domingo, armamos nossa banca num sinal em Boa Viagem, entre as avenidas Conselheiro Aguiar e Ernesto de Paula Santos. Queima de estoque. Sucesso total. Bem... o sucesso seria total se não tivéssemos de passar em frente ao Aníbal Bruno no caminho de nosso fornecedor, antes de prestarmos contas, e se a Pampa não tivesse apenas dois lugares em sua cabine. Era dia das mães, era dia de visitas. Era a porta do presídio fortemente policiada. Éramos três pessoas na cabine da Pampa. Essa conjunção de fatores convergiu para um PM escroto, disposto a ganhar um trocadinho a mais naquele domingo. Fomos parados e informados de que o valor da multa por conduzir passageiros sem o cinto de segurança era de mais ou menos R$ 180,00. Se fôssemos autuados, perderíamos praticamente todo o nosso lucro, auferido durante uma árdua semana de labuta: algo em torno de duzentos reais. Não dava... O “puliça” estava a fim de onda. Conversinha vai, conversinha vem, e nossas convicções morais caíram por terra: acertamos em dez reais o valor do “toco”. Sacamos a “céda” da carteira e entregamos ao guarda, que deu um pulo para trás e exclamou: “você tá louco?”. Detalhe: naquele instante, havia um ônibus lotado parado bem próximo a nós. “Enrole a nota, faça de conta que é uma caneta, e venha aqui ‘assinar’ uns papéis”, orientou entre sussurros o experiente defensor da lei e da ordem. Assim foi feito: assinei os papéis e deixei a “caneta” com o guarda. Hoje tenho dúvidas a respeito da competência daquele policial para aplicar-nos uma multa de trânsito. Mas naquela ocasião, acredito que fizemos o melhor (para nós). O dinheiro arrecadado pagou nossos passaportes.
Ainda conseguimos uns trocados mendigando na Fadurpe. Expusemos nossos motivos ao Prof. Faustino, diretor da Fundação àquela época, o qual, “profundamente sensibilizado”, deu cem reais a cada um de nós. Lembro que Eryvan usou os dele para comprar um relógio Swatch numa loja em Basel, na Suíça.
Vou aproveitar o ensejo para fazer uma revelação: eu viajei com dinheiro público. Na época eu era responsável pelo caixa do PET, e conduzia uma intensa campanha para reduzir a inadimplência. Rosimar era uma das maiores devedoras: cerca de R$ 500,00 (ainda eram apenas quatro anos sem aumento no governo FHC...). Ela pagou tudinho, numa tacada só. Eu estava prestes a viajar... liso! Não tive dúvidas: peguei a grana e assumi o compromisso de devolver em suaves parcelas. Como eu era o credor e o devedor ao mesmo tempo, ninguém ficou sabendo disso. Garanto que tudo foi pago.
Nos meses seguintes, tratamos de reservar nossas passagens e traçar nosso roteiro. A irmã de Eryvan escreveu numa folha de caderno os nomes das cidades “imperdíveis”. Eram tantos os lugares que precisaríamos passar um ano na Europa para conhecer todos... Ela também deu a dica de levar o dinheiro na forma do Visa Travel Money Card. Esse cartão era emitido pelo Banco de Boston, e proporcionava saques em terminais eletrônicos de vários países, na moeda local. Fomos todos juntos, cheios da nota, para a agência do banco em Boa Viagem, efetuar a carga nos cartões. Boa parte dos serviços (passagens, aluguel do carro, plano de saúde) foram contratados junto à Daher Turismo – que ficava numa galeria na esquina da Rua Amélia com a Rui Barbosa –, onde fomos atendidos por uma loirinha muito simpática, de nome Ana (Paula ou Cláudia? Não me lembro...). Eryvan, antecipando sua vocação de homem globalizado, cuidava das reservas dos albergues em localidades para onde certamente iríamos: Londres, Paris, Montpellier e Barcelona (os demais destinos seriam decididos ao longo da viagem). Ele ainda fez diversas pesquisas na internet a respeito de passeios e de opções de transporte, como o Europass. Somos gratos também à tia de Valdomiro, que parcelou as passagens em seu cartão de crédito.
A seguir, um breve relato fotográfico de alguns momentos que vivemos por lá.
Embarque no Aeroporto dos Guararapes. Era a primeira vez que Valdomiro (e, se não me engano, Nelson também) viajava de avião. Lembro-me dele suando frio, respiração presa, agarrado firmemente ao assento no instante da decolagem. Foram dez cansativas horas de vôo, durante as quais assistimos a “O Homem da Máscara de Ferro” e tomamos algumas doses, na tentativa de espantar a insônia causada pela ansiedade. Chegando ao aeroporto de Gatwick, em Londres, percebemos que se tratava de uma roubada. Era como se tivéssemos comprado uma passagem para Recife, e nos deixassem em Caruaru. O primeiro teste de inglês foi na entrevista da imigração. Embora bastante nervosos, todos nos saímos bem.
Primeira refeição cozinhada, no Albergue de Earls Court. Fomos a um mercado fazer a feira e, para manter a tradição dos brasileiros no exterior, compramos tudo errado. Valdomiro aporrinhava: “Feijão! Eu não vivo sem feijão!” Para aquietar o danado, compramos uma lata com o nome “beans”. “Beans” não é feijão?! Era para ser... Ou o Britanic e o Flama English Course nos ludibriaram, ou trocaram as sementes dos ingleses, porque o que veio naquela embalagem não era feijão nem a pau... não o que a gente conhece. Aquela papa amarela que se vê na foto era um creme de frango. Ainda compramos um ‘refri’ vermelho e um tal de “whole orange juice” (garrafão de 5 litros por apresentar a melhor relação £/mL). Pense num troço ruim! Achei que “whole orange juice” era suco de laranja integral, mas me parece que na verdade era suco da laranja inteira, pois o gosto era só de casca! Após algumas aventuras gastronômicas, acabamos nos rendendo ao Mc Donald’s (uma das poucas comidas que compreendíamos) e aos pães com queijos (e outros frios) e verduras. Ficamos contentes quando vimos o preço da Coca-Cola: “1,00”. O problema era a moeda: uma £, valia 3 do nosso. Por falar em libras, lembro-me de nossas intricadas manobras cambiais. Estimávamos nossa despesa no próximo país, um de nós sacava o dinheiro para todos (pois era cobrada uma taxa fixa por retirada), convertíamos o valor para o dólar do dia, dividíamos por quatro, com precisão de seis casas decimais: esse era o valor da dívida, que seria abatida ou paga nos demais destinos. Em Barcelona, na semana final da viagem, gastamos mais de uma hora para acertar nossas contas: era dólar, libra, franco francês e suíço, lira e peseta. Atualmente, com o Euro, ficou tudo mais fácil.
Ao fundo, o Big Ben e o Parlamento britânico. Entre um metrô e outro... correria. “Mind the gap”.
Quarteto da porra (e não estou falando dos Beatles), na exposição de estátuas de cera de Madame Tussaud.
Estação do Norte de Paris (Gare du Nord), desembarque do Eurostar, vindo de Londres. Nelson exibe o guia “como falar tudo em francês”, o qual estudamos intensivamente sob o Canal da Mancha, observados por um grupo de crianças que riam de nossas dificuldades lingüísticas (fazer biquinho é coisa de viado). Valdomiro sorri na foto, mas instantes depois ele passaria pelo seu momento mais estressante durante a viagem. Ele era o sacador da vez, porém seu cartão não funcionou. “Tô liso... a viagem acabou para mim...” Peraê, Val... vamos tentar resolver. Foram longos minutos num telefonema para a central de atendimento Visa, em múltiplos idiomas (se ele não aprendesse naquela hora, não aprenderia mais nunca), até finalmente falar com um funcionário que se encontrava nos EUA. Tudo deu certo.
Valdomiro tinha um pantim com essas fotos, que foi inclusive motivo de pequenas desavenças entre nós. Era um tal de enquadra aqui, mais pra lá, mais pra cá... Porém, vendo esse retrato, dez anos depois, tenho de reconhecer: “Val, você tinha razão”. É um pecado cortar o topo do Arco do Triunfo e desperdiçar meia foto mostrando uma calçada. O francês que fez isso merece umas cipoadas.
Torre Eiffel, que exibia a contagem regressiva para o ano 2000. Valdomiro e Eryvan conheceram o topo da torre. Nelson e Wagner – os primos-pobres do grupo – subiram de escada (por pirangagem) até o segundo patamar. Quando desceram para retornar ao albergue, o metrô já havia parado de funcionar. Com o coração partido, pegaram um táxi. Acabou saindo mais caro. Como forma de se penitenciarem, não saíram no dia em que Valdomiro e Eryvan foram ao Moulin Rouge. Por falar em pirangagem, recordo-me que, no albergue em Fréjus, na Riviera Francesa, Nelson chegou a dormir uma noite no carro, para economizar a diária.
Acho que esse lugar é o Jardim Luxemburgo, em Paris. Eu coloquei essa foto mais para lembrar de um episódio engraçado: quem nos fotografou foi uma dupla de senhores (que depois descobrimos se tratar de um casal de senhores). Eles puxaram algum papo e nos perguntaram se vínhamos de Amsterdã. “Não... por quê?” “É que nós estávamos lá, assistindo aos Gay Games, e pensamos que vocês viessem de lá também”.
Na entrada do Museu do Louvre. Essa bandeira nós compramos com a certeza de que a seleção ganharia aquela final. Zidane estragou nossa festa, mas levamos o nosso símbolo augusto da paz mesmo assim. Imaginem a alegria dos franceses, menos de um mês depois de conquistarem sua primeira Copa. O que mais ouvíamos eles falarem, quando ficavam sabendo que éramos brasileiros, era um tal de “trroá zerrô”. Deve ser alguma saudação de boas-vindas. A fila do Louvre era algo gigantesco, e olhem que nós nem fomos no dia em que a entrada era de graça. Mesmo sob aquele calor, tantas horas de espera sobrecarregaram a bexiga de nosso amigo Valdomiro, que, a poucos metros da porta de entrada, vendo uma galera tomar banho de chafariz, decidiu-se a pular na água também, de calça e tudo, só para dar uma mijadinha. Novamente, com o apoio moral de seus colegas, ele resistiu bravamente, e só se aliviou dentro do Museu, num local apropriado para esse fim.
Cena comum nas estradas européias, a bordo de nosso possante Renault Mégane: Wagner dirigindo, Valdomiro navegando (entenda-se: dando pitaco). Embora apenas eu e ele tenhamos tirado as carteiras internacionais de habilitação, todos dirigiram. Uma das funções mais importantes do navegador era a de encontrar aquela estrada vicinal, para escaparmos dos salgados pedágios das ‘highways’. Valdomiro revelou seu talento de piloto no trecho entre Biarritz e Barcelona. Olha, pelo que eu vi no mapa, é longe! Mas sei que eu só dei uma cochiladinha assim que partimos. Quando acordei, já estávamos em Barcelona. Não sei pra que tanta pressa de chegar...
Banho no rio Reno, em Basel (Suíça). Fomos àquela cidade só para nadar nesse rio, indicados pelo relato de um brasileiro que conhecemos no Arc de La Défense, em Paris. A língua que se falava naquele local era tão enrolada, que nós fomos parar na Alemanha, à procura do albergue. Nessa foto, aparecem Wagner e Nelson. Pouco depois, Eryvan juntou-se a nós. Ele estava com pudores de se banhar, pois trajava uma cueca branca. O constrangimento foi-se embora depois que ele viu uns senhores idosos se trocando às margens do rio, expondo suas carnes flácidas sem a menor cerimônia. Na água, nosso amigo exibiu seus talentos para o nado sincronizado, com arrojadas manobras como o ‘peixe-bunda’ e o ‘periscópio’.
Jantar no albergue em Verona (Itália). Após duas semanas na Europa, já conseguíamos transitar com mais desenvoltura entre as gôndolas dos supermercados. Nessa refeição, o prato principal era o sanduíche de queijo ‘xavasca’, assim apelidado graças ao olor característico que exalava.
Um dia em Veneza. Todos diziam que esse era um destino imperdível, e nós endossamos esse conselho.
Torre de Pisa. Quem viu primeiro? Acho que foi o Eryvan (porque é o mais alto).
Caixa automático do estacionamento em Montpellier, onde deixamos o carro durante a semana do Congresso. Eryvan estava enrolado em meio a tantos palpites e ‘insert coin’.
Os cientistas no centro de convenções Le Corum, onde ocorreu o congresso.
Um ano depois da primeira foto, nós e o Ruelão. Marcelo, só faltou você (se bem que o carro ia ficar apertado que só, com cinco macho dentro dele).
Reunião etílica-musical de brazucas no Mc Donald’s da Place de la Comedie, em Montpellier. Tinha pesquisador aí que não sabia falar inglês – muito menos francês – que eu saquei. Foram só passear na França, às custas do erário público.
Finalmente uma comida conhecida! Galeto com batatas fritas, na praia de Carnon, próximo a Montpellier.
Eryvan e Valdomiro na Grand Plage, em Biarritz (França). Eu e Nelson alugamos essas duas pranchas (dois bois, na realidade) e passamos o dia todo tentando surfar. Como lá só escurecia por volta das nove da noite, ficamos no mar até essa hora. Saímos engelhados e roxos (pense numa água gelada!). Os que não surfavam também não tiveram do que reclamar, pois essa é a praia com maior concentração de BP (vide lista de abreviaturas) por metro quadrado que eu já vi.
Wagner e Nelson na Plaza de Toros, em Barcelona. Nós torcemos muito por Ferdinando, mas não teve jeito. O espetáculo é todo armado para o toureiro levar a melhor. Quando ele entra, o touro já está mais furado que tábua de pirulito. Sacanagem...
Lista de abreviaturas (inclusive algumas que não foram utilizadas no texto acima)
BP = bico de peito. Inspirada na indumentária (ou falta de) que as francesas (não) vestem quando vão à praia.
BX = bomba “xiando”. Diz-se das fotos em que algum de nós apareceu sozinho, sendo por isso obrigado a ficar com ela (e suas respectivas cópias) e, obviamente, pagar cada uma. Essa expressão surgiu após a primeira série de revelações de nossos rolos de filmes. Pegamos uma promoção em que valia mais a pena fazer duas cópias de cada foto. No início, tirávamos nossas fotos em grupo nos pontos turísticos, mas sempre aparecia o gaiato que pedia: “agora tira uma minha sozinho...” Toma, zoião, se lascou! Pega a BX que é tua! Depois dessa constatação, o discurso mudou: “Por que vocês não vêm aparecer comigo na foto...” Isso é que é amizade bonita, desinteressada...
FC = fundo de calçola. Mais uma abreviatura inspirada na elegância da mulher européia.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
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